AVISO: todo o conteúdo deste blogue é FICÇÃO. A arte não deve ser confundida com a realidade. Toda e qualquer interpretação é da exclusiva responsabilidade da pessoa que (mal)interpreta.
sábado, junho 30, 2012
Ao contrário
Ao fim da tarde fui buscar Susana que, assim que entrou no carro, começou a barafustar dizendo que eu só ano com ela para foder e que só estamos juntos no fim-de-semana umas horas e que eu nunca a levava uma esplanada. Levei-a a uma esplanada e enquanto virávamos Martinis, passou a outra com o seu namorado a conduzir. Nesse momento percebi que acabou. Já tinha acabado há anos, simplesmente tinha-me recusado a aceitar esse facto, andava em negação. E agora ali estava a realidade a passar à minha frente, eu sentado na esplanada com Susana enquanto ela passava sorridente, com ele a conduzir...
Tinha percebido que aquilo finalmente tinha acabado e que não mais ia continuar a alimentar aquela fantasia.
Horas mais tarde, entra ela com uma amiga, pela primeira vez, na discoteca onde eu costumo ir. Cumprimentou-me ao de longe, eu retribui. Estava lindíssima. Eu, num barril de pólvora emocional, não sabia o que sentir. Tentei apenas não sentir nada, enquanto uma mistura intensa de paixão e de ódio me tentava assaltar a cada momento.
Passado umas horas saiu, sem dizer nada, e eu também nada lhe disse.
Comecei a beber o mais que pude para não ter de pensar.
Vim com Susana para casa e assim que caí na cama adormeci imediatamente.
Sonhei que estava na discoteca, e tentava escapar às escondidas com ela enquanto Susana me parecia perseguir, não se importando com a sua presença. No sonho, a certa altura estava abraçado às duas, e enquanto Susana parecia distraída, tentava beijá-la, sendo que não conseguia porque Susana depois olhava para mim e tínhamos de interromper o beijo. Antes de acordar, estava na rua à porta do bar, a tentar escapar sorrateiramente com ela, mas Susana aparecia e juntava-se a nós. Enquanto isso, outros homens cobiçavam-na com os olhos...
Quando acordei, houve sexo, mas uma sensação esquisita assaltava-me o tempo todo.
Susana no final disse-me que gostava cada vez mais de mim. Eu não consegui dizer nada e ela ficou triste.
Estou confuso. Culpo a outra por me ter cortado todas as hipóteses e ter escolhido o outro. Por outro lado não sinto por Susana aquilo que sentia por ela.
Tenta-se dar luta ao destino, mas tudo parece ao contrário...
Há dias em que acho que deve ser isto amar loucamente. É normal passar um dia inteiro a pensar numa mulher, ir ao google e pôr o nome dela, e depois passar horas a olhar para uma foto com uma enorme vontade abafada de chorar? Não conseguir relaxar, não conseguir trabalhar, não conseguir fazer mais nada? E depois largar tudo e continuar a fazê-lo obsessivamente, desejar voltar a vê-la, a falar com ela, imaginar e mil e um esquemas, e não haver nada que possa fazer para evitar esta magicação? E só a custo conseguir evitar cometer uma loucura. E no final querer fugir dali imediatamente e sentir-me miserável, para depois querer novamente voltar a repetir todo o processo? E depois imaginar um reencontro, imaginar que a pessoa também não nos esqueceu, imaginar ambos a largarmos tudo para ficarmos juntos, felizes por conseguir derrotar um destino improvável? Imaginar um verdadeiro amor, uma criança nascida de um amor perfeito, não da resignação e da conformação...Às vezes só compreendemos que temos uma necessidade avassaladora de alguém quando a perdemos definitivamente, e quando percebemos que tudo isto só se passa na nossa cabeça e que estamos no limiar da loucura...
E depois tento ser racional, relembrar que foram elas que escolheram este destino e que não há nada que eu possa fazer.