sábado, setembro 13, 2008

Realidades Paralelas

Já não sou o mesmo que escreveu aqui pela última vez, mas por outro lado sei que sim. Procura, acaso, escutar, olhar. Atracção, embriaguez, curiosidade, sensações, prazer, amor,.. medo, felicidade. Em que ordem, por que equilíbrio, em que fase, com que prognóstico?
Pensamentos, Subjectividade, relativização das perspectivas, navegar pelas mentes alheias. Um jogo perverso o de nos colocarmos de dentro do campo de visão de uma outra, e outra sucessivamente, e de tantas e tantas outras vezes que nos guia a nossa criatividade, a nossa imaginação, o nosso outro eu que emana os seus pensamentos em surdina por detrás das cortinas da nossa mente, do nosso eu social, do que sai para fora, e passa através dos outros em velocidade luz.

O Amor. A paixão. Quem sabe se não apenas o mero desejo de mergulhar nas profundezas de um outro eu que queremos explorar, descobrir, penetrar num território infinito de um novo mundo por descobrir. Que nos fascina.
E no entanto há outra pessoa. Há outra perspectiva própria em casa segundo. Comunicação, partilha de perspectativas, ideias, pensamentos. Encontrar um equilíbrio pode ser um objectivo cego, às vezes mesmo obssessivo, e por muito que saiba bem estar embriagado, não se sabe o que vai acontecer no minuto seguinte. É como um filme que começa e nunca se sabe como vai acabar. Confiança. Espírito positivo, boas vibrações. Vou repetindo para não esquecer.


Elsa. Os últimos quatro meses foram Eu e Elsa. Elsa e Eu. Outro eu, outra Elsa. Outra Elsa, outro Eu. Um desejo inexplicável, numa roda livre de sentimentos que me manteve cativo durante todo este tempo. Mas não era ficção, era real, e deixava-me completamente à deriva sem manual de instruções ou experiências passadas que pudesse permitir prever fosse o que fosse. Sentia-me bem não lutando, entregando-me caído na cama sem jogos, sem ficções ou divagações sem sentido. O sentimento de bem-estar era incrível.
O passado intrometeu-se sem ser convidado, quer fosse em vagas de pensamento esbatidas, quer fosse por presenças pictóricas.
Encontro-me tão deliciado, que por dias e dias chego a esquecer tudo, deleitando-me apenas no momento presente. O problema é quando não esqueço, quando comparo, quando fico a sós com o meu eu mais solitário, quando volto a repousar nas profundezas da gruta.

Estou feliz. Queria apenas manter este estado algum tempo mais sem ter fazer absolutamente nada de extraordinário para que ele se mantivesse, deixá-lo apenas fluir ao sabor do vento de duas vontades comuns. Sem guerras, sem mentiras, sem agressão ao próximo. Quão difícil é na vida simplesmente podermo-nos soltar-se da lógica capitalista e desconfiada das relações e podermos amar livremente outra pessoa que nos quer amar igualmente a nós, durante um certo período de tempo, incógnito. Por vezes parece estar tão perto de nós que nos queima, outras vezes, mergulhamos num olhar ou numa recordação e estamos novamente a viajar na infinitude virtual dos mundos alternativos, a divagar em realidades paralelas.


Imagem retirada daqui

quinta-feira, setembro 04, 2008

Amor é fogo que arde sem se ver



Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís de Camões