O Obcessivo
Vestiu-se, comeu qualquer coisa, meteu um cigarro à boca e fez-se ao caminho. Agasalhado, na medida do possível, arrastou-me para o clima frio gelado que naquela noite que quase nos conseguia congelar. Caminhávamos em passadas largas, para não arrefecer. Em poucos minutos estavamos no café. Sentámo-nos. Dissimulados no meio da multidão, começou mais uma noite de trabalho. Sabia de antemão que não iria ter qualquer sucesso, qualquer resposta ás suas preces. Ele próprio tinha consciência de não possuir já réstea de esperança, de ilusão. Então que fazia ele ali, interrogava-me. Mais uma noite esperou por ela, mesmo sabendo que não viria. Mais uma noite ela não apareceu, reforçando-lhe a certeza que não viria mais... Então que raio de força era aquela que o movia? "Tive ontem um sonho. Sonhei que ela aparecia", confessou-me. Um par de horas e meia dúzia de cervejas depois fomos para casa. Mais uma vez aqui voltará, na sua ânsia doentia. Mais uma vez imaginará, como em tantas outras noites, que ela será a próxima pessoa a entrar pela porta. Mais uma vez irá para casa com reforçada consciência de viver uma doentia obcessão. "Alguém me chamava naquele sonho. Queria acreditar que era ela. Afinal era apenas a minha imaginação. Não deveria ser ela concerteza." Mas será que este gajo algum dia vai perceber que gere a vida dele em função de uma recordação? Será que não percebe que o que faz é doentio, já que a mulher vive a anos-luz de distância? "Será que era mesmo ela?"
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