sábado, julho 11, 2009

O Sonho


O sonho, que agora percebia ser um sonho, era um pesadelo multiplicado ao infinito, estava morto, e não sabia.. mas ninguém tinha dado a notícia ao corpo potrefacto. Mas não um pesadelo qualquer, senão o pior, e o pior é que por mais que me mexesse, que me beliscasse, que fechasse e abrisse os olhos, não conseguia acordar. Estava mergulhado num pesadelo, que não consiga esquecer nem ignorar. Um zombie, num vegetal sem força ou vontade de vingar nos vivos. Já não conseguia dormir nem sonhar. Todos eram cúmplices, e festejavam, cartazes, desenhos, textos, diálogos o que fosse arte, multiplicavam as ondas de repercursão ao infinito. Eram eles, e no final estava eu.


Elsa era para mim neste momento um monstro, que não tinha conhecido um segundo de empatia ou consideração por mim. e por todo o mal que me fazia, sem se importar com o sofrimento, daí retirava o seu prazer extra. Era a Mentira infinita. Por debaixo da máscara era uma pessoa fria, frustrada, infeliz, calculista, ocultando uma personagem falsa e estéril, sádica, incapaz de mostrar um pouco de verdade ou amor em si. Tudo era representação. Tinha passado um ano inteiro com uma psicopata, com uma assassína, e não havia suspeitado de nada. Ela dizia que eu é que era paranóico. Pelas minhas contas Elsa devia ter milhares de vezes sem eu suspeitar de nada. Os seus amantes eram ... Desde os regulares (semanais que iam picando o ponto dia sim, dia sim), que deviam ultrapassar o n infinito... até aos esporádicos, aos ocasionais, a todos... Elsa nunca dizia que não a uma, quer fosse o amigo do namorado todos, quer fosse o velho de taska mais asqueroso (bastava pagarem-lhe um bagaço.) Ela própria, de uma forma eufemística, dizia que se sentia vazia, por dentro, que não me poderia contar os podres da vida dela, que era como um um sentimento capitalista de consumo, e que precisava de me chupar o sangue todo porque segundo ela, era eu que lhe dava a força e auto-estimas necessárias para poder continuar. Mas que lá combatia esse vazio preenchendo-se com o maior número possíveis T e o seu ideal seria estar sempre o dia todo, fosse lá, eles iam-se rendendo e ela geria tudo matemáticamente como uma secretária registadora. Dizia ser a mãe de todos os homens, prostituia-se pela cidade e até Já nada disso importa agora, são meros pormenores...


O que mais me impressionava era que durante um ano inteiro tinha vivido uma mentira, não somente. Todos os seus sorrisos, todas as suas gargalhadas, todos os seus olhares, todas as suas frases tinham sido uma mentira, uma falsidade, uma representação, uma hipocrisia desde o primeiro momento repetida até à exaustão, em frente de todos aqueles que alinhavam pela mesma batuta: mentira e hipocrisia. Em todos eles, tudo era falsidade.
Durante um ano inteiro eu tinha sido o maior *?3#»+/*"@ de toda a cidade. Bastava-me ir aos cafés ou aos locais de diversão nocturnos para ser destacado em voz alta e de dedo em riste, para ser alvo da troça geral daqueles que precisam de gozar e chamar nomes aos outros para se sentirem um pouco melhores na sua própria miséria. Sentia-me como um morto a apodrecer numa prisão, condenado à morte sem saber ainda a data da execução.


Mas neste pesadelo era ela que eu odiava acima de tudo, não fosse ódio um sentimento próximo do amor e eu tela-ia odiado com nunca antes alguém tinha odiado outra pessoa. Mas o ódio era um sentimento demasiado humano. Seria apenas um nojo infinito, numa náusea eterna. O problema é que não era só ela. Eram também todos os que tinham representado, que tinham fingido, e acima de tudo ficavam mal nas fotografias. Mas em última análise o culpado era eu, por não me ter ouvido, por me ter deixado levar como uma criança. O mundo era feio tenebroso, a humanidade não valia nada, era simples vómito de sémen que alguém engolia, escória desfeita pelos intestinos e expelida pelo cú. Estava condenado ao isolamento. Não tinha amigos, ninguém... Todos se riam, mesmo depois de ela ter partido. Todo eu era miséria, dor, tristeza... A única voz que ouvia era eu a falar comigo próprio. A única que me interessava.


Sentia-me podre, morto, dorido. Era como um zombie, sabia que a partir daquele momento jamais poderia confiar. E um zombie sem forças, incapaz de se tornar vampiro, incapaz de perpetuar o ritual sádico da mordidela no pescoço. O meu corpo arrefecia. Não conseguia esquecer que todos aqueles anos erma para o lixo. Todo esse submundo onde as palavras ganham outro sentido, onde o único valor é passar por cima, repugnava-me Aqueles que pensava prestarem tinham sido aqueles que mais prazer tiravam da miséria, por essa ordem proporcional. Sabia que nunca poderia, jamais, ser eu. Teria de guardar tudo para mim próprio. Quanto menos falasse doravante, melhor...


Noutras circunstancia teria ficado feliz por me ter visto livre dela, uma ela semelhante a todas as cobras assassinas que agora conseguia visualisar. Tinha descoberto a natureza humana, a natureza da humanidade, e tudo mudava de perspectiva. A própria voz me dava asco. Ninguém dizia nada sem um segundo sentido, e esse segundo sentido era simplesmente isso: foder, foder, foder, e nos intervalos retirar prazer do sofrimento dos outros. Neste mundo, uma pessoa valia em igual razão ao número de amantes, de hipocrisia, de promiscuidade que era capaz de executar, e do grau de sadismo que pudesse imputar às vítimas.
Até aí ela dizia-me que o problema era eu, que precisava de aprender a, a tirar o fechar os olhos, a tirar o sentido sexual de todas as coisas, e a tentar esquecer que o resto do mundo existia. Ela dizia que era simples, que lhe repugnava o sexo e a traição, que eu não me preocupasse com nada. Trágicamente era esse o seu maior e único objectivo, mas a realidade era o seu oposto.
Agora, o mundo desabava sobre mim. Todas me procuravam para mandar a estucada final, para ver até que ponto do meu sofrimento podiam tirar um prazer sádico, que era o possível. 

Eu, mergulhado numa metamorfose kafkiana, e tudo à minha volta era merda.


Ao ler os blogues, uma sensação de desespero tomava conta de mim. Pela primeira vez senti uma verdadeira crise: a ideia de culpabilidade, a ideia de desespero, a ideia de vazio, de ruína, de nihilismo total e absoluto. Já nem o sexo que todos veneravam eu conseguia ver com entusiasmo. Já nem a simples amizade, onde eu pensava viver emergido, fazia qualquer sentido. Era o nada absoluto, o zero último, e eu estava no centro dele. Todo o passado havia sumido, nem uma memóri restava. Tudo havia sido queimado ou destruído até ao último resquício.


Sabia que tinha sido estúpido, burro, cego por não querer ousar pensar. Todas as paranóias, todos os sonhos tinham sido o meu subconsciente a alertar-me, e eu tinha ignorado. Todas as crises tinham sentido, a paranóia era simplesmente o facto da intuição querer avisar. Durante todo o tempo eu não conseguia perceber porque razão não me conseguia desprender, não me conseguia soltar e amá-la com todas as forças, sem medo. Havia uma ânsia permanente dentro de mim que me prendia, a dizer que eu não podia confiar, e eu tinha-me ignorado. Sabia que algo não estava bem, que aquilo não fazia sentido desde o primeiro minuto, só não sabia porquê. Não há como lutar contra o inconsciente.


Agora é o nada. O vazio absoluto. O zero. A dor infinita. O sofriento. A penúria, o exílio. Vagueio como um doente em convalescênça e nem o nada que antes me dava prazer me entusiasma. As pessoas falam comigo mas tratam-me como um fantasma. Sou um zombie à deriva, sem pretensões nem forças de me tornar vampiro e ascender à mentecaptilidade. É a náusea absoluta... Nojo...



Jamais,
jamais seria capaz de voltar a olhar,
jamais seria capaz de acreditar,
jamais seria capaz de ver,
jamais seria capaz de sentir,
jamais seria incapaz de aguentar mais daquela merda, fosse como fosse.
Nada.
Jamais.

Percebia agora que não estava louco.

Estava simplesmente um sonho...

A apodrecer no imediato despertar.


Não havia nenhuma luz, nem sequer nenhuma sombra.

Levantei-me e abri  a janela. 

Já não havia psicopatas...

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