quinta-feira, março 09, 2006

Paixão VS Amor

Enquanto estava lá ontem, fui pensando na minha vida. A auto-confiança que inalo para dentro, e que depois em público exalo para fora, não passa de uma forma artificial, feita de porcelana. Lembro-me que enquanto estava sozinho no meio deles, ía ocasionalmente fugindo daquela sala e pensando na minha vida. Pensei nela uma vez mais. Ou nelas, melhor dizendo. Pensei primeiro na minha paixão platónica. E uma vez mais perguntei-me se isto não passa de uma fantasia que preciso de manter para dar algo mais de fábula romanesca à minha vida. Estou farto de saber que isto foi, é, e sempre será uma fantasia irrealizável. Então porque continuei eu a sonhá-la e a alimentá-la? A questão para mim é relativamente simples. As pessoas precisam de ter estas fantasias, de viver com elas. É um pouco como ter uma amiga imaginária, uma confidente. Simplesmente incorporamo-lo na imagem exterior de alguém que já conhecemos. A pessoa que eu um dia "conheci", não tinha de facto a personalidade da personagem feminina que imaginei, que idealizei, numa espécie de romance mental que vou construíndo permanentemente. E depois questiono-me se não será a mais perfeita loucura trocar ou perder alguém real, com quem realmente partilhámos qualquer coisa, por uma ideia abstracta e completamente platónica dessa imagem que construímos e moldámos dentro de nós para podermos amar a impossível perfeição (idealizada). Precisamente porque sabemos que não podemos moldar os outros, negamos cedências para não termos de moldar os ideais românticos que temos dentro de nós. E não é paixão no sentido comum, aquela que sentimos nas nossas fábulas pessoais. Se as figuras não são reais, porquê então confessar esta paixão ao mundo real? Porquê sofrer por ela? Porquê deixar quem quer que seja tomar conhecimento dela, se depois nos vão julgar por isso? E punir...

Pensei então na minha amada do mundo real. Porque não é paixão aquilo que temos, perguntava-me ela, e perguntava-me eu... De facto, acho que nunca consegui sentir paixão depois de uma relação consumada. A paixão é justamente a idealização da pessoa amada, de quem roubamos a imagem e uma pequena amostra de personalidade, para a integrar num filme imaginário que já haviamos préviamente construído para ela. Assim que integramos a pessoa real nesse filme, ele fica irremediávelmente estragado, porque vamos descobrindo um ser humano e este não é nem poderia nunca ser a pessoa que idealizámos. Acho que falhei sempre ao transmitir isto. Mas também não poderia ceder nunca a escolhas forçadas entre o real e o ideal. O real é o que me traz sensações efectivamente, é aquilo que me faz vivenciá-las, senti-las, experimentá-las. Mas eu não poderia nunca sentir paixão por alguém real. Toda a imagem que formamos das pessoas é a nossa imagem pessoal dela. À medida que a vamos conhecendo efectivamente, o espaço para a imaginação vai-se reduzindo cada vez mais. A isso chama-se amor, parilha, ternura, carinho. Ao sonho chamam paixão. Porque é algo que vivemos individualmente. O desejo no mundo real alimenta-se com a presença efectiva da outra pessoa, tal como ela é na realidade. O desejo no mundo do sonho alimenta-se com uma figura imaginária, a nossa deusa pessoal com quem mantemos um caso virtual e secreto... E sublinho, secreto...

1 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

A paixão é uma quimica que segundo estudiosos diura dois anos. Libera uma substância que nos deixa quase loucos, irresponsáveis. Depois passa de um dia para o outro. Preste atenção. Para mim sempre foi assim. Dois anos e a paixão desaparece. Pena!

quinta abr. 27, 12:03:00 da manhã 2006  

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial