domingo, junho 20, 2010

Ovídeo e “A Arte de Amar”

Via: http://www.truca.pt/raposa_textos/poesia_21_ovideo.html

Poesia 21 - Ovídeo e “A Arte de Amar”
INDICATIVO

Blasfemo, digo: Ovídeo está para a arte do amor como Maquiavel para a arte de governar.

SOBE

Publius Ovidius Naso, poeta romano, conhecido por Ovídio, nasceu em 20 de março de 43 a.C. em Sulmo, actual Sulmona, em Itália.
Destinado por seu pai a estudar para advogado, trocou a carreira pela de poeta. No ano em que Jesus Cristo fazia oito anos de idade, Ovídeo, foi banido de Roma pelo imperador Augusto por causa de seu livro em verso, “A Arte de Amar”, considerada imoral por Otávio Augusto.
Curiosamente, 2.000 anos depois, a arte de amar ainda é banida se a ela se acrescentar um condimento erótico.
Ovídio influenciou com seus versos, cheios de suavidade e harmonia, autores tão diversos como Dante, Milton e Shakespeare.
Foi pela altura em que foi banido de Roma, que Ovídio escreveu a sua obra mais famosa: Metamorfoses. Faleceu no ano 17. Só meia-dúzia de anos depois, Jesus passaria pelas mãos hábeis e sábias de Maria Magdala. Segundo Saramago.

SOBE

Chegou ao Estúdio Raposa, ao abrigo da campanha “Forneça-me, por favor, literatura erótica”, amabilidade de alguém que se quer manter incógnito, chegou ao Estúdio Raposa, dizia, uma tradução de “A Arte de Amar”. E que tradução, meus caros! Nada mais, nada menos do que um trabalho de Natália Correia e David Mourão-Ferreira, numa edição da Vega.
Ouçamos um excerto do prefácio desta obra, de autoria de Mourão Ferreira.
SOBE

Particularmente prezada durante a Antiguidade, lida e relida - sobretudo às escondidas - ao longo de quase toda a Idade Média, revalorizada com sempre renovado interesse a partir do Renascimento, a Arte de Amar de Ovídio não é apenas um dos monumentos perenes da literatura ocidental, mas também uma espécie de ponte ininterrupta, com sólidos pilares assentes no curso movediço de cada século, a atestar e a reforçar a continuidade dessa mesma literatura. Compósita mistura de Bíblia profana, de Manual de Bordo e de Livro de Cozinha para uso dos aprendizes do amor, a Arte de Amar tem vivido clandestinamente sob o alçado de escrevaninhas devotas, ocupado os mais secretos lugares no topo das estantes mais veneráveis, transitado de mão em mão sob a capa de sucessivas gerações de estudantes, pernoitado em celas de conventos e em celas de prisões, em castelos, em palácios e em estalagens, em boudoirs de cocottes e em tendas de campanha, em bordéis, em solares, em escolas, em beliches de transatlântico e em compartimentos de caminho de ferro …
SOBE

Vamos ouvir três excertos da obra de Ovídeo. Um poema de cada um dos livros em que se divide a obra.
MÚSICA

O pudor impede a mulher
de provocar certas carícias mas se é o homem a começar
ela recebe-as com delícia.
Ah! tens excessiva confiança
nas tuas qualidades físicas
se esperas que seja a mulher
a tomar a iniciativa.
É ao homem que compete começar
e dizer palavras suplicantes.
À mulher cabe acolher suavemente
essas brandas palavras amorosas.
Queres possuí-la? Pede.
Ser rogada é tudo o que deseja.
Dá-lhe um motivo para se entregar.
Às velhas heroínas
dirigia-se Júpiter com um ar suplicante;
não eram elas que o vinham provocar.
Porém se as tuas preces
se quebram no rochedo de um orgulho distante,
desiste e volta para trás.
Desejam as mulheres o que lhes foge
e detestam o que está ao seu alcance.
Se insistires com mais moderação,
maior será a sua aceitação.
Nem sempre transpareça em teus pedidos
o ímpeto da paixão.
Quantas vezes sob o nome de amizade
num coração fechado entra o amor.
Muitas mulheres esquivas vi cair
na armadilha desta sedução:
o que era apenas admirador
volvera-se em amante.

MÚSICA

Qual é o amante experimentado
que os beijos não misture com palavras de amor?
Mesmo que a tua amada tos não dê
rouba-lhe os beijos que não te quiser dar.
Talvez comece por resistência opôr
e te chame «insolente»,
mas resistindo pretende ser vencida.
Não molestes com beijos mal roubados
os seus lábios sensíveis, delicados;
que queixar-se não possa da tua grosseria.
Roubar um beijo e não roubar o resto
é uma falta de jeito que merece
perder os favores já concedidos.
Depois do beijo, ó homem, por que esperas
para outros desejos consumar?
Não é pudico o teu comportamento;
deste sim mostras de um tosco acanhamento.
Teria sido violência, dizes;
mas dessa violência não fogem as mulheres;
o que elas gostam de nos conceder,
muitas vezes concedem, resistindo.
A mulher violada por um rapto insolente
torna a violação como um doce presente;
e aquela que coagi-la fora fácil
e intacta se retira,
mesmo que o rosto alegria aparente,
vai com certeza descontente.
Foram Febe e a irmã violentadas.
Nem por isso ambas as raptadas
amaram menos aquele que as raptou.

MÚSICA

Dos ensinamentos que me resta dar
já me sinto corar.
Mas diz-me a benévola Dione:
«o que causa vergonha, eis a nossa tarefa.»
Que cada uma de vós a fundo se conheça
e escolha a atitude
que mais em harmonia com o corpo lhe pareça.
A mesma posição a todas não convém.
Se o teu corpo é bonito deita-te sobre as costas
e é de costas que deves tua nudez mostrar,
se à perfeição do dorso nada tens a apontar.
Também tu cujo ventre Lucina encheu de rugas
faz como o Parto que no combate volta o dorso.
Milanion trazia sobre os ombros as pernas de Atalanta;
se as tuas mãos são belas do mesmo modo as mostrarás.
Se a mulher é pequena,
que tome a posição do cavaleiro.
Porque era altíssima
nunca a tebana mulher de Heitor
fez de cavalo em cima do marido.

Se procuras que o homem admire
da tua anca a linha inteira,
com a cabeça atirada para trás
na cama te ajoelha.

Se as tuas coxas têm da juventude o viço
e é impecável o teu peito
fique o homem direito
e obliquamente a ele estende-te no leito.

Não te envergonhes dos cabelos soltar como as Bacantes
e faz girar o colo emoldurado pela solta cabeleira.
Para os prazeres de Vénus praticar há mil maneiras.
Mas a mais repousante e menos complicada
é ficares sobre o flanco direito
meia deitada.
Sinta a mulher que os deleites de Vénus
ressoam nos abismos do seu ser;
e para os dois amantes
seja igual o prazer.
Nunca os doces murmúrios se interrompam
nem as palavras que escorrem quais carícias
e no meio das volúpias não se calem
aquelas que soam mais lascivas.

Mesmo se a natureza te negou
de Vénus as frementes sensações,
finge o doce prazer experimentar
com mentirosas inflexões.
Infeliz da mulher se o órgão de prazer permanece insensível
e que volúpias deve originar para ela e para o amante.
Mas cuidado não seja o fingimento
manifesto e visível.
Que a fingida expressão e os movimentos
que o teu amante enganam
seja aos teus olhos crível.
A volúpia, as palavras e a respiração
serão os instrumentos
com que fabricarás sua ilusão.
Impede-me o pudor de prosseguir.
Do teu órgão, mulher,
são secretos os meios de expressão.

MÚSICA

Ouvimos no Poesia Erótica de hoje, um pouco mais comprido do que é habitual (mas o tema merece) excertos, em poesia, da famosa obra de Ovídeo “A Arte de Amar”, escrita há 2.000 anos, numa tradução da responsabilidade de Natália Correia e David Mourão-Ferreira. Edição Vega.
Termino com as palavras finais de “A Arte de Amar” de Ovídeo:
SOBE

Chega ao fim o meu jogo:
é tempo de pôr os pés no solo,
de o carro abandonar, a cuja canga
entregaram os cisnes o seu colo.
Como atrás, os jovens que ensinei,
também vós, ó mulheres minhas alunas,
sobre os vossos troféus escrevereis:
«Ovídio, Ovídio, foi o nosso mestre!»
INDICATIVO

Excertos da Arte de Amar, de Ovídio

Ovídio, 43-17 d. C, escritor romano


Não podemos evitar que desapareçam as graças da juventude. Colhei, pois, a flor, porque, caso contrário, sem proveito murchará e cairá.

Segui o exemplo das deusas, e não desdenheis dos gozos que vos podem proporcionar os desejos dos vossos amantes.

Chegará um dia em que tu, que agora foges ao amor, te verás velha e abandonada, condenada a passar a noite sozinha, no teu leito gelado. Por tua causa não se levantará nenhuma disputa nocturna querendo forçar-te a porta, nem, pela manhã, terás rosas espalhadas junto da soleira.

Os anos correm e passam como a água; a onda que passou ante os nossos olhos, como a hora que passa, jamais voltará. Por isso, é preciso retirar proveito da idade; por muito felizes que sejamos, a idade escapa-se-nos rapidamente, e nada é como dantes.

Diverti-vos impunemente com as mulheres, se sois sábio.

É mais fácil que os pássaros emudeçam na Primavera, que as cigarras não cantem no Verão, ou o cão de Nénalo fuja diante das lebres, do que uma mulher resistir à carinhosa solicitude de um homem.

Promete, promete com ousadia, pois as promessas vencem as mulheres! Júpiter, que lá do alto observa e testemunha os perjúrios dos amantes, ri-se deles e ordena aos ventos de Éolo que os levem e anulem.

Deves mostrar-te apaixonado e, com as tuas palavras, dar a sensação de que estás ferido de amor. Para persuadi-la, todos os meios são bons. Não é difícil fazê-la acreditar. Toda a mulher se julga digna de ser amada e nunca faltou um chinelo velho para um pé doente.

Quem rouba um beijo e não rouba o resto, merece perder os favores prometidos.

O amor proibido agrada igualmente ao homem e à mulher. Apenas acontece que o homem não sabe dissimular, e a mulher esconde muito melhor os seus desejos.

Até as mais castas sentem prazer quando são elogiadas pelos seus encantos. Também as virgens zelam e cuidam da sua beleza.

Faz, pois, com que a tua amiga trema; ateia o incêndio no seu morno coração; que ela empalideça ao ter conhecimento da tua infidelidade.

Quando estiver muito irritada e te parecer que se tornou numa declarada inimiga, pede-lhe para fazerem as pazes na cama. Tornar-se-á mansa.

É na cama que se fazem as pazes, sem se recorrer às armas. É lá que nasce o perdão. As pombas que brigam constantemente, unem os bicos e os seus arrulhos são uma linguagem de amor.

Das Mulheres

O mundo é grandemente perturbado pelas mulheres.
Jaina Sutras, Acaranba Sutra, textos religiosos indianos, do século VI a. C., e depois.

A natureza da mulher é inferior ao do homem na sua capacidade para a virtude.
Platão, 428-347 a.C., filósofo grego, As Leis

Depois dos catorze anos, as mulheres não almejam mais do que a tornarem-se parceiras de cama do homem, e começam a alindar-se e a pôr nisso todas as suas esperanças. Por essa razão, é importante darmo-nos ao trabalho de lhes fazer perceber que só se elevarão por via de uma aparência modesta e do auto-respeito.
Epicteto, 50-127, filósofo romano, Dissertações

Os tolos sempre foram os melhores maridos. Os casamentos infelizes vêem dos maridos com miolos.
P. G. Woodehouse, 1881-1975, escritor humorista inglês, The adventures of Sally

Acreditem-me: a mais estúpida das mulheres pode controlar um homem esperto; mas é preciso uma mulher muito esperta para controlar um louco.
Rudyard Kipling, 1865-1936, escritor inglês, Plain Tales from the Hills

Quando uma mulher vai por maus caminhos, os homens vão logo atrás dela.
Mae West, 1892-1980, actriz americana, no filme She Done Him Wrong

Uma mulher bonita não precisa de saber nada sobre os homens. São os homens que precisam de saber sobre ela.
Atribuído a Katherine Hepburn, 1907-2003, actriz americana

Estou cansado do disparate que é ouvir dizer que a beleza é algo à flor da pele, que não é uma coisa profunda. Mas que é que queriam, um adorável pâncreas?
Jean Kerr, escritora norte-americana, The snake as all the lines

Uma mulher sem um homem é como um peixe sem uma bicicleta.
Atribuído a Gloria Steinem, feminista americana.

As mulheres que procuram ser iguais aos homens, têm falta de ambição.
Timothy Leary, 1920-1996, escritor americano citado em www.womens.Net

Quando a luz está apagada, todas as mulheres são fadas.
Plutarco, 50-125 d. C., escritor grego, Morals

A noite e o vinho são maus elementos para julgar a beleza. (…) A noite e a obscuridade dissimulam os defeitos e encobrem indulgentemente as imperfeições, de modo que qualquer mulher parece bela.
Ovídio, 43-17 d. C, escritor romano, A Arte de Amar

Foi, em parte, por minha culpa que nos divorciámos. Tendia a colocar a minha mulher num pedestal.
Woody Allen, realizador e actor cinematográfico, filme I had a rough marriage

O amante esforça-se sempre por estar de boas relações com o cão da casa.
Moliére, 1622-1673, comediógrafo francês, Les femmes savantes

Do Amor e do Casal

Nunca o casal esteve tão fragilizado, e no entanto, nunca foi tão forte a necessidade de formar um casal. No mundo anónimo e numa sociedade atomizada em que o cálculo e o interesse se espalham, o casal significa intimidade, protecção, cumplicidade, solidariedade.
E. Morin, sociólogo e filósofo francês, Método V; edição portuguesa: Europa-América

A família, como todos sabemos, é o futuro do amor e o seu natural desenlace, mas esse facto, por si só, nunca foi capaz de salvar o amor, o casal, ou a família.
A. Compte-Sponville, filósofo francês, Pequeno Tratado das Grandes Virtudes; Edição portuguesa: Presença

É preciso ter paciência para apreciar as delícias domésticas.
George Santayana, 1863-1952, filósofo americano, The Life of Reason

A arte do casamento é saber passar do amor à amizade sem sacrificar o amor.
André Maurois, 1885-1967, escritor francês, Lettres à l’inconnue

Citações
Casamento: humor, ironia, sarcasmo.

Os tolos sempre foram os melhores maridos. Os casamentos infelizes vêem dos maridos com miolos.
P. G. Woodehouse, 1881-1975, escritor humorista inglês, The adventures of Sally

Acreditem-me: a mais estúpida das mulheres pode controlar um homem esperto; mas é preciso uma mulher muito esperta para controlar um louco.
Rudyard Kipling, 1865-1936, escritor inglês, Plain Tales from the Hills

Abre bem os teus olhos antes do casamento, e deixa-os meio-fechados, depois.
Benjamin Franklin, 1706-1790, físico, ensaísta e político norte-americano, Poor Richard's Almanack

O casamento é o estado ou condição de comunhão envolvendo um senhor, uma senhora, e dois escravos, num total de dois.
Ambrose Bierce, 1842-1914, escritor americano, The Devil's Dictionary

O casamento é como um forte sitiado: aqueles que estão fora querem entrar, e os que estão dentro querem sair.
Pierre-Marie Quitard, 1782-1882, gramático francês, Études sur les Proverbes Français

Penso que os homens de orelha furada e brinquinho estão melhor preparados para o casamento. Já experimentaram a dor e compraram jóias.
Rita Rudner, comediante americana, http://www.delafont.com/comedians/Rita-Rudner.htm

O casamento é uma grande instituição, mas não estou ainda preparada para ela.
Atribuído a Mae West, 1892-1980, actriz americana, em Quotations for our Time, de Laurence Peter

O marido é o que resta do amante, depois de lhe ter sido extraído o nervo.
Helen Rowland, 1875-1950, escritora americana, A guide to men.

O amor é cego, mas o casamento restaura a vista.
Autor desconhecido

Embora o casamento faça do homem e da mulher um só, não deixa de haver dois tolos.
William Congreve, 1670-1729, escritor irlandês, The Double Dealer

O casamento é a principal causa do divórcio.
Groucho Marx, 1890 - 1977, actor americano, http://www.groucho-marx.com/

Romantic Love in Literature: the case of Plato, Dante and Shakespeare

Plato, 428-347 b.C., Greek philosopher, Symposium

When a lover is fortunate enough to meet his other half, they are both so intoxicated with affection, with friendship, and with love, that they cannot bear to let each other out of sight for a single instant.

Love sleeps on the naked earth, in partaking of his mother’s poverty…. In the space of a day he will be now, when all goes well with him, alive and blooming, and now dying, to be born again by virtue of his father’s nature, while what he gains will always ebb away as fast.

Love is always poor, and anything but tender and fair, as the many imagine him; and he is rough and squalid, and has no shoes, nor a house to dwell in; on the bare earth exposed he lies under the open heaven, in-the streets, or at the doors of houses, taking his rest; and like his mother he is always in distress.

Like his father too, whom he also partly resembles, love is always plotting against the fair and good; love is bold, enterprising, strong, a mighty hunter, always weaving some intrigue or other, keen in the pursuit of wisdom, fertile in resources; a philosopher at all times, terrible as an enchanter, sorcerer, sophist. Love is by nature neither mortal nor immortal, but alive and flourishing at one moment when he is in plenty, and dead at another moment, and again alive by reason of his father's nature.


Dante’s Platonic Love
Dante Alighieri, 1265 - 1321, Italian Poet, Vitta Nuova

Nine times already since my birth the heaven of light had almost revolved to the self-same point when my mind’s glorious lady first appeared to my eyes, she who was called by many Beatrice (‘she who confers blessing’), by those who did not know what it meant to so name her.

(…) She appeared dressed in noblest colour, restrained and pure, in crimson, tied and adorned in the style that then suited her very tender age.

(…) At that moment I say truly that the vital spirit, that which lives in the most secret chamber of the heart began to tremble so violently that I felt it fiercely in the least pulsation, and, trembling, it uttered these words: ‘Ecce deus fortior me, qui veniens dominabitur michi: Behold a god more powerful than I, who, coming, will rule over me.’

(…) From then on I say that Amor governed my soul, which was so soon wedded to him, and began to acquire over me such certainty and command, through the power my imagination gave him, that I was forced to carry out his wishes fully. He commanded me many times to discover whether I might catch sight of this most tender of angels, so that in my boyhood I many times went searching, and saw her to be of such noble and praiseworthy manners, that certainly might be said of her those words of the poet Homer: ‘She did not seem to be the daughter of a mortal man, but of a god’.

(…) When so many days had passed that exactly nine years were completed since the appearance of this most gracious being I have written of above, it happened, on the last of these days, that this marvellous lady appeared to me, dressed in the whitest of white, between two gracious ladies who were of greater age: and passing through a street she turned her eyes to the place where I stood greatly fearful, and, with her ineffable courtesy, that is now rewarded in a greater sphere, she greeted me so virtuously, so much so that I saw then to the very end of grace. The hour at which her so sweet greeting welcomed me was exactly the ninth of that day, and because it was the first time that her words deigned to come to my ears, I found such sweetness that I left the crowd as if intoxicated, and I returned to the solitude of my own room, and fell to thinking of this most gracious one.

(…) From that vision onwards my natural spirit began to be obstructed in its operation, because my spirit was completely dedicated to thoughts of that most graceful one: so that in a little while I reached so frail and debilitated a condition, that many friends were anxious about my appearance: and many full of malice put themselves about to know about me things that I wished above all to hide from others.
For an extensive online version of Dante’s New Life: http://www.adkline.freeuk.com/TheNewLifeI.htm


Shakespeare
William Shakespeare, 1564-1616, English poet and playwright

Romeo: Just as a pilgrim might kiss the statue of a saint in hopes of receiving forgiveness for sins, so your acceptance of my kiss undoes any sin I committed by holding your hand.
Juliet: So you claim to have gotten rid of your sin by kissing my lips. Now I've got the sin. What are you going to do about that?
Romeo: "You want me to kiss you again? Great!"

'Tis torture, and not mercy: heaven is here,
Where Juliet lives; and every cat and dog
And little mouse, every unworthy thing,
Live here in heaven and may look on her;
But Romeo may not.

Did my heart love till now?
Forswear it sight,
For I ne'er saw true beauty till this night.
Romeo and Juliet

For you in my respect are all the world:
Then how can it be said I am alone,
When all the world is here to look on me?
Midsummers’s Night Dream

Love and Fidelity

A. Comte-Sponville, French philosopher, A short Treatise on the Great Virtues


The lover is irksome and jealous as long as he loves, and unfaithful and deceitful when he stops loving.

Eros is a jealous god. He who loves wants to posses his beloved and keep her for himself alone. If she is happy with someone else, you would rather see her dead! If he is happy with someone else, you would rather have him unhappy with you.

We desire not this particular woman, who is real, but the possession of her, which is not.

How many men think they desire a woman when all they really want is an orgasm?

How can I swear to you to love you forever and to love no one else? Who can take an oath to his feelings?

Why would I keep yesterday’s promise since I am no longer the same today? Why indeed?

Love is Madness

For stony limits cannot hold love out,
And what love can do that dares love attempt.
William Shakespeare, 1564-1616, English poet, Romeo and Juliet

Common life is an insignificant reflection of what happens in love
Marcel Proust, 1871-1922, French writer, The Prisoner

We knew passions could make us mad, but one should also state that they can illuminate.
E. Morin, French philosopher and sociologist, Method V

Lovers and madmen have such seething brains,
Such shaping fantasies, that apprehend
More than cool reason ever comprehends.
William Shakespeare, 1564-1616, English poet, Midsummer’s Night Dream

The lunatic, the lover, and the poet
Are of imagination all compact
One sees more devils than vast hell can hold,
That is the madman: the lover, all as frantic,
Sees Helen's beauty in a brow of Egypt:
The poet's eye, in a fine frenzy rolling,
Doth glance from heaven to earth, from earth to heaven;
And, as imagination bodies forth
The forms of things unknown, the poet's pen
Turns them to shapes, and gives to airy nothing
A local habitation and a name.
Such tricks hath strong imagination,
That, if it would but apprehend some joy,
It comprehends some bringer of that joy;
Or in the night, imagining some fear,
How easy is a bush supposed a bear!
William Shakespeare, 1564-1616, English poet, Midsummer’s Night Dream

The desire of love bewitches and turns fool the heart of the victim. It bewitches the mountain lions, the fishes of the sea, men, and all the creatures fed by Earth.
Euripides, 480-406 b. C., Greek author, Hypolitus

Love in Literature: Abelard and Heloise

Heloise, 1098-1164, French Religious, Lettres d’ Abelard et Heloise
Peter Abelard, 1079 – 1142, French Logician, Historia Calamitatum, Macmillan

Abelard (some extracts from his letters):

We were united first in the dwelling that sheltered our love, and then in the hearts that burned with it. Under the pretext of study we spent our hours in the happiness of love, and learning held out to us the secret opportunities that our passion craved. Our speech was more of love than of the books which lay open before us; our kisses far outnumbered our reasoned words. Our hands sought less the book than each other's bosoms - love drew our eyes together far more than the lesson drew them to the pages of our text. In order that there might be no suspicion, there were, indeed, sometimes blows, but love gave them, not anger; they were the marks, not of wrath, but of a tenderness surpassing the most fragrant balm in sweetness. What followed? No degree in love's progress was left untried by our passion, and if love itself could imagine any wonder as yet unknown, we discovered it. And our inexperience of such delights made us all the more ardent in our pursuit of them, so that our thirst for one another was still unquenched.

In measure as this passionate rapture absorbed me more and more, I devoted ever less time to philosophy and to the work of the school. Indeed it became loathsome to me to go to the school or to linger there; the labour, moreover, was very burdensome, since my nights were vigils of love and my days of study. My lecturing became utterly careless and lukewarm.

It was not long after this that Heloise found that she was pregnant, and of this she wrote to me in the utmost exultation, at the same time asking me to consider what had best be done. Accordingly, on a night when her uncle was absent, we carried out the plan we had determined on, and I stole her secretly away from her uncle's house, sending her without delay to my own country. She remained there with my sister until she gave birth to a son, whom she named Astrolabe

When her uncle and his kinsmen heard of this, they were convinced that now I had completely played them false and had rid myself forever of Heloise by forcing her to become a nun. Violently incensed, they laid a plot against me, and one night while I all unsuspecting was asleep in a secret room in my lodgings, they broke in with the help of one of my servants whom they had bribed. There they had vengeance on me with a most cruel and most shameful punishment, such as astounded the whole world; for they cut off those parts of my body with which I had done that which was the cause of their sorrow. This done, straightway they fled, but two of them were captured and suffered the loss of their eyes and their genital organs. One of these two was the aforesaid servant, who even while he was still in my service, had been led by his avarice to betray me.
Peter Abelard, Historia Calamitatum, Macmillan, translated by Henry A. Bellows


Heloise (some extracts from her letters):
God knows I never sought anything in you except yourself; I wanted simply you, nothing of yours.

For not with me was my heart, but with you. But now, more than ever, if it be not with you, it is nowhere. For without you it cannot anywhere exist

But if I lose you what is left for me to hope for? What reason for continuing on life's pilgrimage, for which I have no support but you, and none in you save the knowledge that you are alive, now that I am forbidden all other pleasures in you and denied even the joy of your presence which from time to time could restore me to myself?

For a long time my pretence deceived you, as it did many, so that you mistook hypocrisy for piety; and therefore you commend yourself to my prayers and ask me what I expect from you. I beg you, do not feel so sure of me that you cease to help me by your own prayers. Do not suppose me healthy and so withdraw the grace of your healing. Do not believe I want for nothing and delay helping me in the hour of my need. Do not think me strong, lest I fall before you can sustain me....
The letters of Abelard and Heloise, Penguin Books, translated by Betty Radice

O amor romântico como um jogo: Shakespeare

Amas-me? Sei que vais dizer «sim», e eu acreditarei na tua palavra. Mas não jures. Júpiter ri-se das juras dos enamorados.
William Shakespeare, 1564-1616, poeta e dramaturgo inglês, Romeu e Julieta

Oh! Não jures pela lua, a inconstante lua cujo disco todos os meses varia: tenho medo que o teu amor também se torne igualmente inconstante.
William Shakespeare, 1564-1616, poeta e dramaturgo inglês, Romeu e Julieta

Há mais perigo no teu olhar do que em vinte das espadas do teu pai.
William Shakespeare, 1564-1616, poeta e dramaturgo inglês, Romeu e Julieta

Infeliz de mim! Que olhos o amor pôs na minha cabeça, tão opostos à verdadeira realidade?
William Shakespeare, 1564-1616, poeta e dramaturgo inglês, Sonho de Uma noite de Verão

Tu, cego louco, que fizeste tu, Amor, aos meus olhos?
William Shakespeare, 1564-1616, poeta e dramaturgo inglês, Sonho de Uma noite de Verão

O amor não muda como os dias, mas gravita na sua órbita até ao fim dos tempos.
William Shakespeare, 1564-1616, poeta e dramaturgo inglês, Sonho de Uma noite de Verão

Asas, e não olhos. Eis o emblema do amor.
William Shakespeare, 1564-1616, poeta e dramaturgo inglês, Sonho de Uma noite de Verão

O Amor como um jogo: Marcel Proust

Marcel Proust, 1871-1922, escritor francês

A vida é semeada por esses milagres que só as pessoas que amam podem esperar.
À Sombra das Jovens Raparigas em Flor

Amar é, de alguma maneira, como nas histórias, e nada se pode fazer até que o encantamento cesse.
O tempo recuperado

Quando o amor é muito grande, é inimaginavelmente pequeno o papel da mulher real.
À Sombra das Jovens Raparigas em Flor

O amor é um exemplo flagrante do pouco que a realidade é para nós.
Albertina desaparecida

Podemos estar junto da pessoa amada e, apesar disso, não a termos connosco.
Sodoma e Gomorra

No amor, o que é perigoso e gerador de sofrimento, não é a mulher em si mesma, mas a sua presença diária, e a curiosidade constante sobre o que ela está a fazer
O tempo recuperado

Só amamos o que se nos apresenta como algo de inacessível; não amamos o que já possuímos.
A prisioneira

A possessão do ser que se ama é uma alegria ainda maior do que o amor.
A prisioneira

Muitas vezes, só descobrimos ou sentimos que estamos enamorados no dia da separação.
Albertina desaparecida

É um grande sofrimento deixar-se a vida sem nunca se conhecer como teria sido beijar a mulher que tanto se amou.
O caminho de Guermantes

Nas pessoas que amamos, imanente a elas, há um certo sonho que se persegue e que nem sempre sabemos discernir.
O tempo recuperado

Do amor romântico como ilusão

Tudo o que o amor adquire, lhe escapa sem cessar.
Platão, 428-347 a.C., filósofo grego, O Banquete

Pensar eu que desperdicei anos da minha vida, que quis morrer, que o meu maior amor envolveu uma mulher que não me agradava, que não fazia o meu género
Marcel Proust, 1871-1922, escritor francês, O caminho de Swann

O alado Cupido cego pinta.
William Shakespeare, 1564-1616, poeta e dramaturgo inglês, Sonho de Uma noite de Verão

Também eu em tempos fui adorada.
William Shakespeare, 1564-1616, poeta e dramaturgo inglês, Noite de Reis

O amor é uma aventura que se arrisca à ilusão e à mentira, e a terminar em tragédia.
E. Morin, sociólogo e filósofo francês, Método V

O erro que todos fazemos ao nos apaixonarmos é o de imputar a experiência extraordinária que estamos a viver às qualidades do ser amado.
Francesco Alberoni, ensaísta italiano, Le choc amoureux

Ama-me tanto quanto o desejares, meu amor, mas não te esqueças de mim.
A. Compte-Sponville, filósofo francês, Pequeno Tratado das Grandes Virtudes

Não juro que te amarei eternamente, mas juro-te que permanecerei para sempre fiel ao amor que hoje temos.
A. Compte-Sponville, filósofo francês, Pequeno Tratado das Grandes Virtudes

No amor, a princípio, tudo parece maravilhoso, no outro; depois, tudo parece como é.
A. Compte-Sponville, filósofo francês, Pequeno Tratado das Grandes Virtudes

O que é que é mais fácil de amar do que um sonho? O que é que é mais difícil de amar do que a realidade?
A. Compte-Sponville, filósofo francês, Pequeno Tratado das Grandes Virtudes

De vez em quando ouço falar de um homem e de uma mulher que vivem o amor de uma forma total, que vivem juntos em absoluta e completa união. Mas oiço também falar de pessoas que viram a Virgem Maria. E não dou grande importância a essas visões.
A. Compte-Sponville, filósofo francês, Pequeno Tratado das Grandes Virtudes

O que é que pode ser mais improvável, miraculoso e contrário às nossas experiências diárias do que dois seres unidos num só?
A. Compte-Sponville, filósofo francês, Pequeno Tratado das Grandes Virtudes

Da fonte do encantamento nasce um fio de amargura, capaz de atormentar as próprias flores.
Lucrécio, 98-55 a.C, poeta e filósofo romano, De rerum natura

Do Amor

Se a vida vale a pena ser vivida, ou, noutras palavras, se vale a pena sofrer e ter prazer por se estar vivo, depende fundamentalmente da nossa capacidade de amar.
André Comte-Sponville, The Little Book of Philosophy, Vintage

Apenas há uma forma de se ser feliz na vida: amando e sendo amado.
George Sand, 1804-1876, escritor francês, Carta a Lina Calamatta

Nós, seres humanos, somos animais dependentes do amor.
Humberto Maturama, citado por E. Morin em Método V

O amor dá-nos o êxtase psíquico, e dá-nos o êxtase físico.
E. Morin, sociólogo e filósofo francês, Método V

A poesia da vida, com o amor que ela integra e que a integra, é a única resposta à morte.
E. Morin, sociólogo e filósofo francês, Método V

O amor faz-nos suportar o destino, faz-nos amar a vida.
E. Morin, sociólogo e filósofo francês, Método V

O amor é a grande poesia no seio do mundo prosaico moderno.
E. Morin, sociólogo e filósofo francês, Método V

O futuro espera-nos com os seus males, mas enquanto houver a lua e a música, e amor e romance, escute a música e dance.
Irving Berlin, 1888-1989, compositor norte-americano, Follow the Fleet

Antes um amor fracassado, do que nunca ter amado.
William Congreve, 1670-1729, escritor inglês, The way of the world

Temer o amor é temer a vida, e os que temem a vida, estão à partida meio mortos.
Bertrand Russel, 1872-1970, filósofo e matemático inglês, Marriage and Morals

De todas as formas de cautela, a cautela no amor é talvez a mais fatal para a verdadeira felicidade.
Bertrand Russel, 1872-1970, filósofo e matemático inglês, Mysticism and Logic

O amor banal é fundamentalmente um apetite voraz por uma certa quantidade de branca e delicada carne humana.
Henry Fielding, 1707-1754, escritor inglês, A história de Tom Jones

O amor é a presunção de que uma certa mulher é diferente das demais.
H. L. Mencken, 1880-1956, jornalista americano, Mencken Chrestomathy

Amor é uma forma de insanidade temporária, curável pelo casamento ou pelo afastamento do doente das proximidades da fonte do mal.
Ambrose Bierce, 1842-1914, escritor americano, The Devil's Dictionary

O amor é como o oceano. Quando o olhamos, sonhamos; quando mergulhamos, afogamo-nos.
Autor desconhecido

O amor é o que acontece aos homens e mulheres que não se conhecem.
Atribuído a W. Somerset Maugham, 1874-1965, escritor inglês.

Como é que, diabo, se explica, em termos de Química e Física, um tão importante fenómeno biológico como o do primeiro amor?
Albert Einstein, 1879-1955, físico de origem alemã, em EinsteinQuotes.html, rescomp.stanford.edu, por Kevin Harris

Na sua primeira paixão, a mulher ama o seu amado; em todas as outras, ela ama o seu amor.
Lord Byron, 1788-1824, poeta inglês, Don Juan

Se Laura tivesse sido a mulher de Petrarca, teria ele escrito sonetos toda a sua vida?
Lord Byron, 1788-1824, poeta inglês, Don Juan

O amor é uma fumarada de suspiros; liberto, é uma chama que brilha nos olhos dos enamorados; prisioneiro, é um mar que alimenta as suas lágrimas.
William Shakespeare, 1564-1616, poeta e dramaturgo inglês, Romeu e Julieta

Ao tocar-nos o amor torna-nos a todos poetas, ainda que nele não haja música.
Platão, Simpósio

O amor é a mais ideal das paixões humanas, e é também a mais absoluta e animal, e uma das mais efémeras.
George Santayana, 1863-1952, filósofo americano, Reason in Religion

O amor é como o pi: natural, irracional, e muito importante.
Atribuído a Lisa Hoffman, artista norte-americana contemporânea

O amor é a suprema poesia da natureza.
F. Novalis, 1722-1801, escritor alemão, Heinrich von Ofterdingen

O amor é paciente, o amor é prestável, não é invejoso, não se enche de orgulhos, não rebaixa, não procura os seus interesses, não se irrita, não se alimenta de rancores, não se alegra com a injustiça, mas rejubila com a verdade.
Bíblia, Carta aos Coríntios

A paixão amorosa é o estado nascente de um movimento colectivo a dois.
Francesco Alberoni, ensaísta italiano, Le choc amoureux

A experiência mostra-nos que amar não é ficarmos a olhar um para o outro, de forma esgazeada; é olhar em conjunto na mesma direcção.
A. Saint-Exupéry, 1900-1944, escritor francês, Terra dos Homens

O amor mais não é – na sua forma corrente – do que duas fantasias e o contacto superficial de dois corpos.
Nicolas Chamfort, 1741-1794, French writer, Maxims et Pensées.

Amar é retirar prazer do ver, do tocar e do sentir um adorável objecto que nos ama, através de todos os nossos sentidos e tão exclusivamente quanto possível.
Stendhal, 1783-1842, escritor francês, On Love

O amor é como o pão; tem que ser amassado, feito de novo, todos os dias.
Úrsula Guin, The Lathe of Heaven

Quantos homens pensam que desejam uma mulher, quando apenas querem realmente um orgasmo?
A. Compte-Sponville, filósofo francês, Pequeno Tratado das Grandes Virtudes

Ele não ama mais a pessoa que amou há dez anos atrás. Acredito piamente nisso. Ela não é a mesma, e tão pouco ele o é. Ele era jovem, e ela também. (…) Talvez ele ainda a pudesse amar, se ela fosse como antes.
B. Pascal, filósofo, físico e matemático francês, Pensamentos

Da Amizade

Para conhecermos os amigos é necessário passar pelo sucesso e pela desgraça. No sucesso, verificamos a quantidade e, na desgraça, a qualidade.
Confúcio

A gente não faz amigos, reconhece-os.
Vinícius de Moraes

Ter muitos amigos é não ter nenhum.
Aristóteles

Deus me defende dos amigos, que dos inimigos me defendo eu.
Voltaire

A infelicidade tem isto de bom: faz-nos conhecer os verdadeiros amigos.
Honoré de Balzac

No final, não nos lembraremos das palavras dos nossos inimigos, mas do silêncio dos nossos amigos.
Martin King

Escolho os meus amigos pela sua boa apresentação, os meus conhecidos pelo seu bom carácter e os meus inimigos pela sua boa inteligência. Um homem não pode ser muito exigente na escolha dos seus inimigos.
Oscar Wilde

Não te interesses sobre a quantidade, mas sim sobre a qualidade dos vossos amigos.
Séneca

Quem tem mil e um amigos não encontra um disponível; quem tem um inimigo encontra-o em todo o lado.
Samuel Johnson

É mais vergonhoso desconfiar-se dos amigos do que ser por eles enganado.
François La Rochefoucauld

Entre amigos as frequentes censuras afastam a amizade.
Confúcio

Todos se dizem amigos; mas doido é quem acredita: nada há de mais banal que esse nome; nada é mais raro do que isso.
Jean de La Fontaine

Certos amigos dispensam-nos de ter inimigos.
Mário Silva Brito

Quanto mais longa a explicação, maior a mentira.
Provérbio Chinês.

Crianças e loucos falam verdade.
John Lyly, 1554-1606, escritor inglês, Endymion

Se não é verdade, foi muito bem inventado.
Giordano Bruno, 1548-1600, filósofo italiano, Degli Eroici Furori

O bom senso é a mais bem distribuída mercadoria do mundo, já que cada homem está convencido de que a possui em alta quantidade.
Descartes, 1696-1650, filósofo francês, Discurso do Método

Devemos respeitar, em regra, a opinião dos outros de modo a evitar a fome e permanecer fora da prisão; mais, é submissão voluntária a uma tirania desnecessária.
Bertrand Russell, 1872-1970, filósofo e matemático inglês, The Conquest of Hapiness

Atira todos os preconceitos porta fora, e eles voltarão pela janela.
Frederico o Grande, rei da Prússia, 1712-1786, Oeuvres Complètes (carta a Voltaire)

O «justo» e o «certo» são ditados pelos interesses do partido mais forte.
Platão, 429-347 a. C., filósofo grego, A República

Se persegues realmente a verdade, então, deves, pelo menos uma vez na vida, tão profundamente quanto possível, duvidar de tudo.
Descartes, 1696-1650, fil￳sofo franc↑s, Discurso do M←todo

Todos os homens julgam os limites do seu campo de visão como os limites do mundo.
Arthur Schopenhauer, 1788-1860, filósofo alemão, Parerga e Paralipomena

Tivesse sido o nariz de Cleópatra mais curto, e toda a face do mundo teria mudado.
B. Pascal, 1623-1662, filósofo, físico e matemático francês, Pensamentos

Em quase todos os casos, o poder detido por um homem é um indicador do tamanho do seu harém.
Laura Betzig, em Matt Riddley The Red Queen

O facto de a guerra constituir um espectáculo horroroso deve levar-nos a encará-la mais seriamente, mas não constitui uma desculpa para que quebremos gradualmente as nossas espadas, em nome da humanidade. Mais cedo ou mais tarde alguém virá com uma espada aguçada e arrancar-nos-á os braços.
Carl von Clausewitz, 1780-1831, general e teórico da guerra alemão, On War

O agressor é sempre uma amante da paz. Ele prefere ocupar-nos o país sem oposição.
Carl von Clausewitz, 1780-1831, general e teórico da guerra alemão, On War

Dois amigos são uma mesma alma vivendo em dois corpos.
Citado por Diógenes Laércio em Lives of Eminent Philosophers

Meus caros amigos, não há amigos.
E. Kant, 1724-1804, filósofo alemão, Fundamentos da Filosofia dos costumes

Não há amizade sem reciprocidade.
Michel Tournier, escritor francês, Petites proses

É mais vergonhoso duvidar de um amigo do que ser enganado por ele.
Rochefoucauld, 1613-1680, filósofo francês, Maximes

Um verdadeiro amigo não aprova os erros do seu amigo.
N. Malebranche, 1638-1715, filósofo francês, Recherche de la vérité

A sorte escolhe as tuas relações, mas és tu que escolhes os teus amigos.
Jacques Delille, 1738 - 1813, poeta francês, Malheur et Pitié

Oferecer amizade a quem deseja amor, é dar pão a quem morre de sede.

Para encontrar um amigo temos que fechar um dos olhos. Para mantê-lo, os dois.
Norman Douglas, 1868-1952, escritor escocês, Almanac

Não há amigos. Há momentos de amizade.
Jules Renard, 1893-1898, escritor francês, Journal

A amizade é mais perigosa que o ódio dos fracos.
Marquês de Vauvenargues, 1715-1747, moralista e ensaísta francês, Réflexions et maximes

Como o amor, a amizade funda-se no respeito e acaba com a manobra.
G. Berger, 1896-1960, filósofo francês, Atti del XII Congresso di filosofia, Venezia, 1958.

Não têm alma de amigos, mas apenas o seu nome, aqueles cuja amizade não resiste à desgraça da nossa sorte.
Eurípedes, 480-406 a. C., poeta grego, Oreste

O infortúnio mostra aqueles que não realmente nossos amigos.
Aristóteles, 384-322 a.C., filósofo grego, Ética a Nicómaco

A amizade é incompatível com a adulação, a lisonja, e a baixa complacência.
Cícero, 106-43 a. C., ., filósofo e político romano, Da amizade

Aquilo a que chamamos vulgarmente amizades mais não é do que segredos e familiaridades gizadas pela ocasião e pelo comodismo.
Montaigne, 1533-1592, escritor francês, Essais

O que os homens designam por amizade não é mais do que uma sociedade, uma combinação de interesses, e uma troca de bons ofícios; não é, enfim, mais do que um comércio onde o amor-próprio se propõe ter sempre qualquer coisa a ganhar.
Rochefoucauld, 1613-1680, escritor francês, Maxims

A amizade comporta, como o amor, os seus ciúmes e as suas susceptibilidades.
Eric Blondel, escritor e filósofo francês, L'Amour

Uma verdadeira amizade é tão rara como um cisne negro.
E. Kant, 1724-1804, filósofo alemão, Fundamentos da Filosofia dos costumes

Acreditem-me: a mais estúpida das mulheres pode controlar um homem esperto; mas é preciso uma mulher muito esperta para controlar um louco.
Rudyard Kipling, 1865-1936, escritor inglês, Plain Tales from the Hills

Chegará um dia em que tu, que agora foges ao amor, te verás velha e abandonada, condenada a passar a noite sozinha, no teu leito gelado. Por tua causa não se levantará nenhuma disputa nocturna querendo forçar-te a porta, nem, pela manhã, terás rosas espalhadas junto da soleira.

segunda-feira, junho 14, 2010

I'm sadder than ever.
Everything feels so bad
Truth is worse than I expected
My dreams have all gone dead

I've created this persona,
the tottaly oposite of me.
I could win all the games
But I've hated it.

I manage to aviod people,
trying to be ethereal
But the ghosts suck my blood,
and some times they take control.

I feel sick all the time
Don´t have the power to change things
can't move my body
unless I act like an alchoolic

So I just lay here
like I was waiting for death
in a very depressed or maniac way.

There was this life
that I dream about
But that life doesn't have a place
in the real world.

I feel like crying,
but nothing comes out from me
I'm like a baloon
breathing in,
till it explodes.

I don't like this life
but I'm stucked in it.
I dream with another
where others just don't fit.

Time keeps running
another day wasted
without any dreams at all
Everything is just a big fucking Matrix

counsciessness of truth
killed all my hopes

sexta-feira, junho 11, 2010

Subjective Reality Simplified

"Objective Reality (OR) is the perspective that you’re the character in the dream world, and the dream world is solid, real, and objective. An OR person wouldn’t normally think of the physical world as a dream at all — they accept the (socially conditioned) notion that the dream world is reality itself. The objective world itself is seen as the basis for knowledge. Note that there can be no proof whatsoever that this is how reality actually works; it’s one giant unprovable assumption. It’s also not falsifiable.

Solipsism is the perspective that you’re the character in the dream, and the dream world is either a projection of you, some other kind of illusion, or simply unknowable. Other people are not real in the same way you are. Your own mind is the basis for knowledge. Even though it’s impossible to prove it wrong because solipsism is not objectively falsifiable, many philosophers dislike solipsism because they see it as a philosophical dead end. I tend to agree. If you want to learn more about solipsism, the Wikipedia entry on it is quite thorough.

Subjective Reality (SR), as I describe it, is the perspective that your true identity is the dreamer having the dream, so you are the conscious container in which the entire dream world takes place. Your body-mind is your avatar in the dream world, the character that gives you a first-person perspective as you interact with the contents of your own consciousness. But that avatar is no more you than any other character in the dream world. This perspective is also not objectively falsifiable, so it cannot be proven wrong. However, I find it a very rich and empowering way to interact with the dream world of reality on multiple levels.

Do OR and SR contradict each other?

This depends on your perspective.

..."


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Circuncisação?




Já era!


Clicar não para qualquer esclarecimento

Frases do escritor Vergílio Ferreira

Não penses que a sabedoria é feita do que se acumulou. Porque ela é feita apenas do que resta depois do que se deitou fora.

A mulher mais ciumenta é talvez a que mais facilmente atraiçoa o marido e menos tolera que ele a atraiçoe. Porque o ciúme é a afirmação de um direito de propriedade. E esse direito reforça-se com a traição dela e diminui-se com a dele.

Não consideres petulante um autor quando diz que os outros lhe não interessam nada. Pensa apenas que não é o que os outros fazem que ele quereria fazer. E não o julgues petulante mas honesto. Ou humilde.

O vocabulário do amor é restrito e repetitivo, porque a sua melhor expressão é o silêncio. Mas é deste silêncio que nasce todo o vocabulário do mundo.

Ama o impossível, porque é o único que te não pode decepcionar.

Teve uma ideia, tão original e tão esquematizada em máxima sentenciosa, que se tornou um lugar-comum e perdeu a originalidade. Mesmo para quem a criou.

Escrever é ter a companhia do outro de nós que escreve.

O amor afirma, o ódio nega. Mas por cada afirmação há milhentas de negação. Assim o amor é pequeno em face do que se odeia. Vê se consegues que isso seja mentira. E terás chegado à verdade.

Que importa que já o saibas? Só se sabe o que já nos não surpreende.

Chora aos berros como as crianças até te estafares. Verás que depois adormeces.

Crer para ver.

Não penses que a sabedoria é feita do que se acumulou. Porque ela é feita apenas do que resta depois do que se deitou fora.

Não consideres petulante um autor quando diz que os outros lhe não interessam nada. Pensa apenas que não é o que os outros fazem que ele quereria fazer. E não o julgues petulante mas honesto. Ou humilde.

Ama o impossível, porque é o único que te não pode decepcionar

Se és artista, não fales em ser maior ou menor, para não confundires a tua obra com uma prova de atletismo.

De duas ou mais dores simultâneas, a nossa atenção escolhe uma e quase esquece as outras. Na ruína do nosso tempo, vê se escolhes o mais importante dela. Evitarás assim o ridículo de chorar a perda de um alfinete numa casa que te ardeu. E a História olhar-te-á com simpatia - talvez vá mesmo para a cama contigo.

Toda a explicação pressupõe o conhecimento do inexplicável, ou seja, do que seria mais interessante explicar.

Não se pode verdadeiramente admirar senão quem está longe. Porque só a distância nos garante que não cheire mal da boca.

O que o moralista mais odeia nos pecados dos outros é a suspeita acusação de covardia por não ter coragem de os cometer.

A mulher escolhe sempre o homem que a escolhe a ela, como é da sabedoria das nações. A verdade também.

Morrerás em breve. É incontestável. E quanta verdade morrerá contigo sem saberes que a sabias. Só por não teres tido a sorte de num simples encontro ou encontrão ta fazerem vir ao de cima.

Não há amor como o primeiro, mesmo que esse primeiro seja o último.

Jovens e nus frente ao mar, estão presentes em cada célula do seu corpo. Mas a vida que têm é demais para eles e não sabem que fazer dela. Emergem da água rutilantes e riem. Depois deitam-se na areia, gastam o dia e a noite a amar-se, a embebedar-se, a estoirar todo o prazer e forças que têm. E ficam ainda com vida por gastar. É desses sobejos já com bolor que terão de viver depois na velhice.

Quando se apanha um mentiroso, ele pode perguntar-nos - e o que é verdade? E o mais provável é termos de o deixar seguir.

Pois. Tiveste em jovem a tua ideologia. Mas envelheceste. E a velhice tem já as suas falhas de memória. E uma das maiores falhas de memória é persistires no que te torna já um maníaco.

A crença seja no que for é um resíduo de tudo o que falhou.

Porque é que dizes quem me dera ser feliz e não dizes quem me dera ser medíocre? Porque dirias a mesma coisa. E o que provas ao dizê-lo é só que afinal já o eras.

Falar alto para quê? Poupa as forças, fala baixo. Poderás talvez assim ser ouvido ainda, quando os outros que falam alto se calarem estoirados.

Ser inteligente é ser desgraçado. O imbecil é feliz. Mas o animal também.

Um deles era muito inteligente e aprendeu tudo, entendeu tudo e levou isso tudo consigo quando morreu. O outro era razoavelmente estúpido e inventou um modelo aperfeiçoado de aguça-lápis. E existiu mais.

Não te entristeças por não poderes já ver o que verão os que vierem depois de ti. Porque depois de mortos, terão visto exactamente o mesmo que tu.

Amas ou não uma mulher, mas não sabes porquê. Como hás-de poder saber a razão do bem e do mal?

Não afirmes o erro de uma verdade, antes de mudar o seu contexto. A menos que te dê gozo levar pedradas.

O difícil em arte é criar-se emoção sem se mostrar que se está emocionado. Ou estar emocionado para antes e depois de se estar. Ou ter a emoção ao lado para nela ir enchendo a caneta.

A verdade «sou eu». Quando o outro disse «o Estado sou eu», disse a mesma coisa. Só que meteu a polícia para não haver dúvidas e outros a dizê-lo também.

A verdadeira pergunta é inocente e é por isso mais própria da criança. A resposta perdeu já a inocência e é assim mais própria do adulto.

O contrário do pessimismo raramente é o otimismo. O contrário do pessimismo, se não é a boa intenção de injetar força nos fracos, o que é bonito e faz bem, é quase sempre a idiota.

Como saber que se falhou, se não sabendo como não falhar? Mas então porque se falha? E se saber que se falha é realmente ignorar como se não falharia? Sabemos de outros que não falharam, porque sabemos então neles o que é não falhar.

Na juventude os chamados ideias orientadores da vida, mesmo os grandes projectos que excedam os de se subsistir, não fazem muita falta. Porque ser jovem é ter já tudo isso como substituto de tudo isso.

Numa situação intensa não sabemos que dizer. Para isso é que há o formalismo do silêncio, traduzido num abraço de emoção ou nos «sentidos pêsames» sem emoção nenhuma.

A verdade és tu. O que mais que se segue já não interessa à conversa. Excepto para demonstrares essa verdade, em movimento de recuo.

Fecha os olhos para não seres cego.

Para que percorres inutilmente o céu inteiro à procura da tua estrela? Põe-na lá.

A melhor forma de não ouvires o que ouves e te incomoda é não o ouvires.

Vê se uma tua ideia se não torna um lugar-comum para te não dizerem que te serves de um lugar-comum quando por acaso a repetires.

A arte deve servir-se fria. Pode ter álcool por dentro. Mas tem de ser álcool que se tirou do frigorífico.

Pensar. E se o pensar fosse uma doença, mesmo que dela resulte uma pérola?.

Só o que é de mais é que é bastante.

Pois, A emoção é decerto uma forma de se subir mais alto. E quando cai, de se cair de mais alto. Aprende a serenidade. Porque mesmo que caias, não te magoas tanto.

A verdade só é perfeita nos instantes de fulgor.

Vive a vida o mais intensamente que puderes. Escreve essa intensidade o mais calmamente que puderes. E ela será ainda mais intensa no absoluto do imaginário de quem te lê.

No amor nunca os pratos da balança estão equilibrados. E como a essência do amor é etérea, quem pesa mais é quem ama menos.

A verdade absoluta, que coisa aflitiva, afinal. Porque se se não tem, como ordenar a vida que é nossa? Mas se se tem, como não anular a vida dos outros que são contra ela?

Uma vida só tem história do princípio para o fim, se a tiver do fim para o princípio.

Sê alegre apenas depois de dares a volta à vida toda. E regressares então a uma flor, ao sol num muro, a um verme no chão. A profunda alegria não é a do começo mas a do fim.

Quanto mais alto se sobe, mais longe é o horizonte.

Quais são as tuas palavras essenciais? As que restam depois de toda a tua agitação e projectos e realizações. As que esperam que tudo em si se cale para elas se ouvirem. As que talvez ignores por nunca as teres pensado. As que podem sobreviver quando o grande silêncio se avizinha.

E eu disse-lhe: o melhor da vida é o seu impossível. E ela disse-me: isso não tem sentido nenhum. E eu dei-lhe razão, mas não sabia porquê. Ou seja, pela melhor razão que podia ter.

O amor acrescenta-nos com o que amarmos. O ódio diminui-nos. Se amares o universo, serás do tamanho dele. Mas quanto mais odiares, mais ficas apenas do teu. Porque odeias tanto? Compra uma tabuada. E aprende a fazer contas.

Não poderás vencer a morte. Mas impõe-lhe a vida como um bandarilheiro e verás que muitas vezes ela marra no vazio.

O amor e o ódio são irmãos. Mas o ódio é um irmão bastardo.

O tempo que passa não passa depressa. O que passa depressa é o tempo que passou.

A verdade primeiro ama-se, depois demonstra-se.

A espécie compromete-se com um casal a que haja amor entre os dois. Mas logo que se apanha servida, vira-lhes as costas e eles que se arranjem.

O maior paradoxo do desejo não está em procurar-se sempre outra coisa: está em se procurar a mesma, depois de se ter encontrado.

No grande artista há uma falha a preencher e no pequeno uma falha a compensar. O primeiro nunca o consegue.

A razão é um elástico. Vê se consegues não a esticar muito para não rebentar.

Ri sempre de maneira que alguém fique, sem saberes, a chorar dentro de ti. Porque se o riso permanece, o que encontra dentro de ti é o idiota que lá estava à sua espera.

Há o que tem limite e o que é sem-limite. A arte é a forma perfeita da consciência destes opostos.

A melhor forma de te não dizerem pequeno é dizeres dos outros que são grandes. Sobretudo se for mentira.

A pátria, como tudo, és tu. Se for também a do teu adversário político, é já problemático haver pátria que chegue para os dois.

Toda a verdade e todo o erro, se repetidos mil vezes, tendem a converter-se no seu contrário. Apenas pela razão de nos fatigarem.

Falhaste a vida, é evidente. Mas não o digas. Porque haverá logo quem venha proclamar em alvoroço que tu mesmo afinal confessas que falhaste para o cretino trombeteiro se julgar menos falhado e os cretinos como ele.

Não te queixes tanto das falhas de memória. Porque se soubesses tudo o que soubeste, não te poderias mexer. E então é que não terias nenhuma.

De que te serve a inteligência, se não tens inteligência para a usar com inteligência?

Nenhum vício se pode combater pelos malefícios que traz, mas sim, por não ser aceitável para a opinião que dele têm os outros. Se queres combater o tabaco, não digas que faz mal. Diz apenas que parece mal.

No amor nunca os pratos da balança estão equilibrados. E como a essência do amor é etérea, quem pesa mais é quem ama menos.

Para o artista, querer não é poder, mas apenas poder querer. Disso se faz a sua glória e o seu desastre. Há todavia aí uma glória sem desastre nenhum, que é habitar num momento de ilusão o palácio encantado do mistério e maravilha. E é o pouco que é bastante. O que fica depois são os despojos desse tudo.

Deus inventou o sexo, nós inventámos o amor. Ele tinha razão.

Tenho tantas saudades de ser eu. De ver. De me deslumbrar numa iluminação.

Ama o próximo como a ti mesmo. É um grande risco. Eu, por exemplo, detesto-me.

Realizei uma obra, fiz nela a minha proposta, disse o que tinha a dizer. (...) Publiquei Para Sempre.

Não comunico com o mundo pelos pés ou pelas mãos ou os olhos. Comunico pelo bico da caneta. E por ele transmito o influxo da vida como pelo dedo de um Deus.

Somos um país de analfabetos. Destes alguns não sabem ler.

Não se pode imaginar uma cor, fora das cores do espectro solar. Não se pode ouvir um som, fora da nossa escala auditiva. Não se pode pensar, fora das possibilidades da lingua em que se pensa.

Achariámos rídiculo que se pudesse dizer, por exemplo, de um amoroso repudiadom que ele sofreu três polegadas de vexame ou meio quilo de opróbrio. Mas é exactamente o mesmo que acontece ao dizer-se que se esteve três quartos de hora à espera da namorada no café, porque a paciência não tem nada a haver com o percurso solar.

Admira-se uma obra com a inteligência e ama-se com a pessoa toda. Por isso é mais económico admrar do que amar.

A arte inscreve no coração do homem o que a vida lhe revelou sem ele saber como.

A arte nasce de uma solidão e dirige-se a outra solidão.

A arte tem o dom de dar beleza. mesmo ao que nasceu e se criou para a fealdade.

A beleza é do imaginário e a imaginação é uma forma de se possuir o que não se possui.

A Ciência não é um meio de "explicar", mas apenas de "constatar" o que descobriu provisoriamente nisso que constatou.

A eternidade não se mede pela sua duração, mas pela intensidade com que a vivemos.

A grande revolução da poesia de Pessoa foi a sua intelectualização.

Há mais sossego na simples melancolia do que em todas as alegrias muito altas.

Há monumentos ao soldado desconhecido. Mas não há só um só aos heróis a que não calhou poderem sê-lo.

A história está cheia de grandes renovadores dela. Ou dos que lhe falharam a renovação. Porque é que Cristo acertou em dois milénios e Marx não chegou a acertar num século?

A morte apenas subscreve o que já somos como excedentários. E há só que deixá-la rubricar à pressa o nosso destino, que tem mais que fazer.

A música é sempre anterior a si, de tempo nenhum, de um absoluto não presentificado, de um tempo anterior ao tempo, de um fora dele, da eternidade.

Nas utopias que até hoje se imaginaram faltou sempre imaginar o que aconteceria depois. Que se imagine uma vida em que se realizasse tudo o que se desejasse. Alguma coisa faltaria ainda em tudo em que já não faltava, e não saberiamos o quê. É isso que não sabes que é fundamental.

Não há pergunta sobre o para quê de uma flor que lhe tire o encantamento. O sentido de ser é o ser.

Nós exigimos a liberdade mas igualmente a sua razão de ser. Que é que justifica uma luz que nada ilumina e se perde no vazio?

Nós sofremos com a morte porque não nos foi infligido o horror de não podermos morrer.

O comunismo distingue-se fundamentalmente do facismo porque foi o primeiro.

O corpo entende-se, a alma compreende-se.

O corpo explica-se e pode discutir-se. A alma é inexplicável e só há que recriá-la em nós ou recusá-la.

O estilo de um grande artista, ele próprio não o sabe. Como a sua voz. Ou os seus gestos. Ou a mímica do seu rosto quando fala. Porque quando o souber tê-lo-ia já perdido.

O homem é um ser fictício em todo o seu ser. E é precisa Morte para ele enfim ser verdadeiro.




Biografia de Vergílio Ferreira (1916-1997)

quarta-feira, junho 09, 2010

"Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem destrói o seu amor próprio, quem não se deixa ajudar. Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajecto, quem não muda as marcas no supermercado, não arrisca vestir uma cor nova, não conversa com quem não conhece. Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o "preto no branco" e os "pontos nos is" a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho nos olhos, sorrisos, corações aos tropeções,sentimentos. Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos. Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da Chuva incessante, desistindo de um projecto antes de iniciá-lo, não tentando um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe. Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior do que o simples acto de respirar. Estejamos vivos, então!"

Pablo Neruda