sexta-feira, julho 22, 2005

Escrever, é uma acto mágico.
Mas telepatia é uma coisa inventada.
Pessoalmente prefiria ver um olhar que mentisse
a mim próprio diáriamente
sem nunca dizer nada,
do que uma simbiose perfeita
tirada de história de encantar,
que soubesse tudo o que eu queria ouvir
mas que nunca fosse falar..

Queria dormir.
Conseguirei dormir.

A solução parece sempre demasiado fácil,
quando lhe acabámos de passar por cima.

Tenho nas costas as marcas desse rasto..

Desprezaste-me à distância de uma mão.
O teu gesto foi o mesmo que mil vezes não.


Agora o sono chega.
Correr?
Porquê,
fugir de quê?
P´ra onde?

Porquê???
Não quero..!
Larguem-me!

Socorro...


Estão todos...
Apetece-me fugir de tudo, fugir de mim, fugir de todas as obrigações e pressões que me cercam, inundam e afogam. Detesto isto. Odeio tudo. Estou cansado de viver. Já não me apetece ser prisioneiro de mim próprio, e fingir que gosto do cativeiro. Estou farto, farto! Farto de me arrastar como um cadáver condenado, que aguarda pelo remédio milagroso, que não existe. Como um zombie que continua o seu caminho, apenas e únicamente porque não sabe que os pulmões já não respiram, que o coração já não bate, que o sangue secou, que as pernas já não mexem, que os olhos já não abrem...

Já não consigo acreditar na ilusão, e quando ela aparece, dou tudo de mim para a derrotar. Quando gosto dos outros, quando perco na guerra o meu próprio pensamento para alguém, perco tudo, deixo de gostar de mim próprio. Oh, como eu já não suporto ver o meu corpo dobrado perante quem quer que seja... Os olhos procuram a liberdade de me roubar mais um bocado de mim... Os meus olhos.., os mesmos que tantas vezes conspiram para me assassinar, em coligação com a estrutura... Gostam de ver o sangue, mas não sei porque carga de água, retiram logo a ponta da navalha assim que sentem o abrir da pele, e a lâmina a encostar no osso... Eu digo sempre que não faz mal, enquanto vou tentando estancar o sangue com o pano que arranquei da camisa, e que os entendo, por serem precisamente o que são. Eles não compreendem de qualquer forma, e afastam-se com algum nojo da poça de sangue que entretanto se foi formando. Repetem para com eles seis vezes que a culpa não foi deles. Depois, dizem que se não tivessem sido eles, outro qualquer teria feito o mesmo, concerteza. Parece que buscam uma confirmação na minha cara, que eu não lhes dou. Quando reparam que já estão suficientemente longe, desatam a correr, com paragem de três em três passos para abrandar o ritmo e depois começam novamente. Mas eu não me vergo nunca. Não luto, e assim não desisto nem me rendo. Porque eu, ao contrário deles, já não quero, nem sequer consigo, continuar a acreditar na ilusão...


Queria reciclar-me. O único poder que venero, é aquele que detenho sobre mim próprio.

domingo, julho 17, 2005



"Nunca amamos alguém. Amamos tão somente, a ideia que fazemos de alguém. É a um conceito nosso - em suma, é a nós mesmos que amamos."

Bernardo Soares, in Livro do Desassossego