sábado, abril 23, 2005

Wings Of Desire

Não é fácil. Sabia-se de antemão que não seria fácil. Mas contigo foi particularmente difícil. Lembras-te daquele primeiro olhar? Que terias sentido? Alguma sensação te terá tomado o pensamento. Nunca a revelaste. Talvez nunca tivesse sequer existido. Enxotaste violentamente a minha mão quando te tentei fazer uma carícia, e chamaste-me desajeitado. Afastei-me, sem perceber o porquê. Parecias tão severa... e distante… Reagias assim, quando eu estava por perto. Quando te via ao longe, olhavas-me paradoxalmente de forma tão terna e pura… Depois coravas, olhavas para o teu lado, e fingias um ar sério. Mas motivada por qualquer força aparente, voltavas de novo a olhar em volta. Eu era pior. Fingia fixar o vazio, justamente por detrás de ti, e escondia-me cobardemente. Tinha medo dessa sombra que pairava tantas vezes à tua volta. Apetecia-me simplesmente levantar voo e chegar até ti. Mas não. A farsa manteve-se. Continuei a fingir que não te via, e quando pensei que te esquecias, levantei-me e saí. Voltei lá um dia. Sentei-me na mesma cadeira, e imaginei o teu olhar à mesma distância. Mas algo tinha mudado para sempre. Os três curtos passos que antes nos separavam, eram agora elevados ao infinito.., intransponíveis... Porque penso eu nisto? Definitivamente… Estou louco..!



quarta-feira, abril 13, 2005

Não consigo perceber nada do que vai nessa cabeça. Mas uma coisa eu sei. Tudo o que aqui se confessou, restringiu-me perante ti, naquela realidade. A principal razão que me levou a fugir disto foi a distância avassaladora que senti, quando estava próximo. Criou-se uma espécie de barreira psicológica densa, que levei muito tempo para conseguir transpor. Quando finalmente consegui, tinhas fugido, ou pior, olhaste para mim como alguém doente. O teu desprezo e afastamento levaram-me a pensar que o era de facto. A partir daí foi desligar, tal como me desligaste a mim, e esperar que caísse de podre...

Não caiu. Muito poderia dizer acerca disso. Poderia dizer que foi um acto de conformismo, de aceitação, de revolta, ou de estratégia. De defesa, talvez. Nem eu sei ao certo. As tuas metamorfoses destruíam-me. Ainda hoje não sei se aquilo que dizias era para mim, e essa dúvida paranóica fazia-me mal. Gostava um dia de o saber, sem dúvidas, rodeios ou meias palavras. Tudo o que sei, ainda hoje, é que só te conseguirei esquecer definitivamente, no dia em que tiver a certeza de que nunca o desejaste. Nunca o soube. Receio que nunca o venha a saber.

Dá-me um sinal. Gostava que voltasses um dia. Dir-me-ias o que sentias, mesmo que nunca tenhas sentido nada. Seria muito mau partirmos em direcções opostas, se não era esse o desejo de nenhum dos dois. É só isso que me assusta…

terça-feira, abril 12, 2005

Requested field cannot be left blank

segunda-feira, abril 11, 2005

Hoje estive a pensar. Não que eu não pense às vezes, mas hoje arranjei formas muito concentradas que me deixaram a fazê-lo de forma especial. E cheguei a várias conclusões. A primeira é óbvia. Pensei muito nela. Desejei tanto mergulhar e descobrir as profundezas do seu pensamento, que quase me afastei da própria noção de realidade…

Até aqui nada de novo. A outra conclusão que tirei é a de que fui extremamente egoísta, por não conseguir perceber que ao demonstrar isso estava na verdade a fazer-lhe mal e a magoá-la. Compreendo agora que não o deveria ter feito. Não só arruinei todo um passado, como trouxe mais confusão ao presente, e inviabilizei completamente qualquer natural gesto futuro A única conclusão que aceito é a de que devo agora libertá-la, deixá-la partir livremente... Esquecer. Não a quero continuar a senti-la pensar. Cada segundo que pudesse dedicar a isto, seria como um ano de inqualificável dor para mim... Não fiz por mal, mas acabei por arrastá-la nesta brincadeira estúpida e sem sentido. Quero que apague esta sensação amarga da minha presença. Não teve qualquer culpa neste processo. Foi irremediavelmente arrastada, e ainda assim conseguiu resistir estoicamente! Estava lá e nada mais podias fazer, senão assistir imóvel aquela dança destrutiva. Espero que se levante, e siga o seu caminho. O palco já não abana. O espectáculo terminou finalmente. As luzes ainda não acenderam. É a altura ideal para ela abandonar a sala. Espero que não pense muito no que aconteceu. O bailado é sempre um exercício abstracto, uma manifestação livre da alma, e a qual não é
possível descrever analiticamente...

Revi-me um dia assim num sonho, e fui inconscientemente estúpido ao ponto de querer descrevê-lo de forma pormenorizada. Quando se é criança, não se compreende o fenómeno dos sonhos. Não vale a pena dar-lhe tamanha importância, nem procurar significados. É apenas um sonho e pronto. Na próxima noite sabemos de antemão que iremos ter outro, diferente, e pronto. Não vale a pena dissecá-los um a um, nem tentar compreendê-los. Não está ao nosso alcance controlá-los. Nem explicá-los, nem descrevê-los. São apenas sonhos, é só isso. Foi apenas mais um sonho, do qual acordei agora, e como já não sou nenhuma criança sei perfeitamente que os sonhos são inexplicáveis. Voltarei a adormecer, e a sonhar, e a acordar de novo, e depois a adormecer.,, Tal como ela, e todos os seres deste mundo.

É claro que há sonhos particularmente agradáveis... Mas não consigo nunca associar os cenários surreais dos sonhos a qualquer realidade que conheça. É um exercício perigoso para o qual não existe comparação possível. Penso que nunca deveria ter escrito estes rabiscos. Estes eram apenas descrições de sonhos. E o meu maior problema, era não aceitar o facto de ter perdido o controlo ao longo do processo... Por isso fui vivendo com este pesar. Mas recuperei-me. E ela? Ela tem um mundo de possibilidades infinitas à sua escolha. Tantos e tantos sonhos, tantas e tantas mais noites para sonhar... É só libertar o subconsciente. Mas cuidado, não vá logo contar a alguém.

Porque se algum dia tiver a sensação que acaba de ter o sonho mais lindo da sua vida, não precisa dizer nada. Nesse dia as pessoas olharão para ela, e compreenderão que está a sonhá-lo naquele preciso momento.

E será ele, o sorriso mais próximo, o primeiro a compreendê-lo…

domingo, abril 10, 2005

Levantar a cabeça

Um dos maiores prazeres que podemos ter na vida é tentar ajudar os outros a reencontrarem-se com eles próprios. A sentirem-se como realmente são, e não como pensam que os outros os poderão pensar. Redescobrir o seu interior, a sua inocência há muito perdida... As pessoas são realmente boas por natureza. Uma vez afastados os enviesamentos resultantes do auto-constragimento que alimentam diáriamente, conseguem voltar a ser elas próprias. O mais díficil é ultrapassar a espessa barreira do medo. É preciso conseguir sair de dentro do eu, para se poder voar alto, e conseguir analisar tudo visto de cima. As cabeças descaídas que vemos à nossa volta, são meros reflexos de nós próprios. Ousar soltar amarras e embarcar nesta longa viagem não é fácil. Mas é quasepor si só suficiente para voltar a encontrar a essência no seu estado puro, espontâneo, natural... Sair por momentos da galáxia e perceber que o universo não tem fim, nem leis, nem lógica, é um avanço urgente que permite chegar ao nosso sentido das coisas, muito tempo antes de tudo acabar. E é depois desse ecstasy, no caminho de regresso, que reparamos que a cabeça voltou a levantar. Já não conseguimos sentir a natureza maléfica do mundo no nosso interior... Todas as batalhas terminaram. Sentimos apenas bem-estar, amor, alegria, paz, empatia, serenidade, e compaixão... E uma profunda satisfação por nos termos finalmente reencontrado com o que de mais belo há em nós... Somos de novo livres... E felizes...

Somos uns atrofiaditos de primeira...

Mas um dia conseguiremos entender tudo isto.



sábado, abril 09, 2005

A vida é uma aprendizagem contínua. Viajamos para longe em busca de nós próprios, partimos à descoberta da alma, e pelo caminho vamos reformulando os nossos paradigmas interiores, à medida que nos vamos libertando cada vez mais..

Mas ao longo do processo, o tempo e as lições de vida são factores determinantes nessa evolução. Não há volta a dar. Não há atalhos, nem outras formas de as contornar ou de ganhar avanço. Não vale a pena tentar lutar contra a estrutura geral, porque rápidamente somos sugados por ela, refeitos prisioneiros no nosso próprio corpo. A partir daqui, tudo o que está para além do fútil existe apenas e unicamente de forma individual e singular para cada um de nós, e dificilmente haverá duas percepções exactamente iguais, ou sequer idênticas.


O que vai havendo ao longo da nossa vida é uma partilha de experiências, nem que indirectamente transmitidas. O que acontece quando químicamente conseguímos iludir os nossos mecanismos de auto-censura, que nos impede de perceber as situações, enfrentá-las , e resolvê-las. E temos que ser nós próprios a fazê-lo. De fora para dentro, dissecando os pontos mais profundos do pensamento.

E um dia, quando estivermos preparados para lidar com isto, vamos finalmente conseguir abordar tudo com naturalidade, E exprimir, na cumplicidade de um olhar, tudo o que fica sempre por dizer. E depois, na despedida, retomaremos os nossos caminhos.